Devil May Cry 5: Tudo em família
A Capcom ensina: é mais fácil matar demônios do que lidar com os parentes
Este texto foi publicado originalmente em abril de 2019, e faz parte de uma série chamada REMASTER, onde eu reciclo meus textos antigos preferidos, dou uma repaginada e trago eles de volta com todo glamour de algo que merece ser revisitado. Se as empresas de games fazem isso, eu também posso, ué.
Inclusive, fica aqui o aviso: o texto pode conter spoilers de Devil May Cry 5. Aka, siga por sua conta e risco.
Casos de família
A Capcom presentou os gamers em 2019 com um de seus melhores jogos de hack and slash feitos até hoje: Devil May Cry 5. Assim como os títulos anteriores da franquia, o novo game traz altas doses de adrenalina AND, claro, muito estilo. Sério, olha essa abertura monstra que não incentiva o consumo de cigarro.
Além de introduzir novos personagens carismáticos e mecânicas que tornam a jogabilidade mais customizável, o cerne da franquia continua ali, trazendo um mar de pancadaria que vai acender o fogo da nostalgia no coração dos jogadores que adoravam pular e atirar com o Dante no PS2.
Mas, entre dizimar seres sobrenaturais com espadas em forma de moto e salvar a humanidade, temos uma história que consegue colar toda a insanidade de Devil May Cry 5 e mostrar que, em algumas situações, é mais fácil brigar com demônios do que lidar com a família (principalmente na conjuntura política socioeconômica brasileira atual).
Essa família é muito unida
A história de Devil May Cry 5 acompanha o jovem Nero em busca do monstro que roubou seu braço superpoderoso e fez uma árvore demoníaca gigante crescer em Red Grave City. Nesta jornada tão convencional quanto ir comprar pão no mercadinho da esquinha, ele se depara com o experiente caçador de demônios Dante e seu novo cliente, um cara misterioso chamado V, que estão na busca pelo mesmo algoz.
Apesar de todo esse rolê, a narrativa, na verdade, é só mais um capítulo bem convencional na história da família iniciada pelo lendário guerreiro Sparda e sua esposa Eva. Com o desenrolar dos acontecimentos, descobrimos que, olha o spoiler, toda a treta foi gerada por Vergil, o pai de Nero e irmão gêmeo de Dante (mas que não é tão fabuloso quanto o Dante).
Para quem jogou tudo que já saiu na franquia principal, com certeza o desfecho foi um prato cheio, e mesmo para quem teve pouco contato com o mundo de Dante e seus parças, a treta familiar disfarçada de apocalipse é um bom enredo para fazer a pancadaria continuar. Podia ser melhor? Sempre pode. Mas eu jamais vou reclamar de um jogo que te permite acelerar espadas, controlar demônios domesticados e transformar motocicletas em armas letais.
Demônios da vida real
Para mim, a parte mais interessante disso tudo não está na história, mas no que fica implícito em toda a narrativa: nós jogamos com um bando de caras que literalmente podem acabar com os maiores males que assolam a humanidade, mas não tem maturidade suficiente para sentar e trocar uma ideia num almoço de família.
Apesar do foco de toda a franquia ser descer a lenha no que aparece em sua frente da forma mais maneira e alucinante possível, dá pra rolar alguma identificação com a galera badass de Devil May Cry 5. A nova personagem Nico, por exemplo, é a mais humana de toda essa gente louca e com certeza você vai achar algum ponto de identificação com ela. Mas, olhando apenas para o núcleo de cabelo branco, também dá pra dizer que a metade humana dos filhos de Sparda fica bem evidente quando o assunto é família.
Os protagonistas de DMC 5 são muito badass, mas
não tem maturidade pra sentar e conversar num almoço de família
Não é difícil encontrar uma pessoa que já tenha brigado com o irmão ou irmã por um motivo besta, ou filhos que não concordam com o posicionamento dos país. De fato, isso já rolou até mesmo comigo, que sou uma pessoa bem de boas nesse aspecto. Logo, mesmo com essa roupagem demoníaca, o problema todo por trás da franquia é bem comum: uma família nada funcional tentando conviver com suas diferenças.
No final das contas, aquele treta calorosa no almoço de domingo não é tão distante do que rola em Devil May Cry 5. A diferença é que você discute por política e futebol, enquanto os filhos de Sparda tem um arsenal demoníaco para tentar resolver seus problemas, já que diálogo não é muito o forte deles. Quem sabe eles até aprendam a debater numa boa nos próximos games, afinal, essa franquia sabe como surpreender.
Vendo por esse lado, não é nada difícil ver Devil May Cry 5 como uma alegoria bem trabalhada para que você dê uma de Nero, aprenda a colocar a cabeça no lugar e tente pregar a paz no ambiente familiar com argumentos – no caso dele, um braço demoníaco superdesenvolvido. Pena que não existem contadores de estilo na vida real…isso tornaria tudo tão mais legal.
Devil May Cry 5 pode ser jogado no PC, PS4 e Xbox One. Se você ainda não conhece essa obra, vale a pena conferir, mesmo que para isso seja necessário pedir dinheiro para seus pais. ;)